Abuso. Escravidão. Autoritarismo. Corrupção. Esperança(?).
"7 Prisioneiros" não quer te iludir com um mundo feliz e a realidade que retrata pode ser um desagradável lembrete que vivemos longe da civilidade.
Isso exposto, você já sabe onde está convidado a entrar. Vamos lá!
Apesar do título, sua atenção será focada em duas personagens e no relacionamento que será estabelecido ali. Há a opção por um ritmo não explosivo, onde situações constroem a tensão e o desenvolvimento dos relacionamentos.
A estrutura é objetiva.
1 - Há o estabelecimento de uma imposição que leva um grupo de conhecidos a uma condição desumana, com escolhas e tentativas de buscar sua liberdade;
2 - Os relacionamentos e abusos trazem diferentes reações aos prisioneiros e essa estratégia individual para a liberdade apresenta escolhas distintas, que embora pareçam coagidas ou impulsivas, simplesmente são o desejo primal de sobrevivência;
3 - As consequências e corrupção daquele ambiente cobram um preço e oferecem sua recompensa, em que o grande ponto é até onde há o desejo de sobreviver para viver e reaver sua liberdade roubada?
Durante esses três atos, "7 Prisioneiros" apresenta o desejo de viver, o desrespeito e egoísmo daquele que se considera em posição de poder e percebe a vida humana apenas como ferramenta para enriquecimento financeiro, pelo "simples" tráfico sexual ou trabalho escravo.
Não há suavidade na situação e mesmo que não seja desenvolvida em profundidade, deixa claro um submundo que muitos não desejam ter conhecimento e o filme opta pela neutralidade sem julgamento ou repreensão, não apontando origens ou culpados. Essa é a situação, independente de como formou-se.
Precisa-se de estômago para respirar o podre, sujo e violento abuso do corpo e alma de outro ser humano como se fosse corriqueiro e habitual, não é?
Esse é o cotidiano em "7 Prisioneiros", quer apreciemos ou não a realidade em sua trama.
Para contar sua história, escolhe-se o relacionamento entre algoz e vítima, usando uma interessante sutileza na manipulação que é sempre presente com escolhas (não há imposição na corrupção), mas opções de ações e possibilidades de fugas que gritam: "A que preço chega tua liberdade, Prisioneiro? Paga!?"
Ao escolher centralizar seu desenvolvimento em duas personagens, o equilíbrio de atuação dos intérpretes é necessário pois é deles a tarefa de apresentar todo o amadurecimento e dano emocional que o roteiro provoca e embora possa haver uma disposição de perceber mais desenvoltura em um do que no outro, o resultado final não compromete.
É agradável não apenas "apreciar" a história, mas notar o cuidado na construção estética, física e verbal que podem trazer tridimensionalidade as personagens.
Ambos os intérpretes trazem a sujeira, agressividade, descaso, fragilidade e "humanidade" que vítima/algoz necessitam para contar sua história, mas pode haver um sentimento de faltar algo e talvez pudesse haver mais profundidade nesse relacionamento, com um maior desenvolvimento e uma dinâmica mais íntima para sentir de forma mais contundente, o desconforto de tudo aquilo que está ocorrendo e que é parte do objetivo da mensagem que deseja ser transmitida à audiência.
Este não é um filme que deseja ser agradável ou feliz, saiba disso.
"7 Prisioneiros" pode ter mais acertos que erros quando se aceita que é um filme Brasileiro (ignoremos o preconceito) e deseja provocar a aceitação para uma realidade que não deveria ocorrer na atual "evolução" do ser humano.
Para mim, seu foco não é apresentar um arco-íris, mas o extremo de escolhas que não são preto no branco e tão pouco podem ser repreendidas quando se há empatia com a vítima.
A rede do submundo é muito mais extensa e clara/turva do que se deseja aceitar e esse é um problema que talvez poderia ter sido explorado de forma mais profunda, para efetivamente abrir a ferida e prover uma experiência mais desagradável e reflexiva ao fim de sua história.
Ah, o fim não será unânime em sua aceitação e talvez essa seja a intenção. "7 Prisioneiros" não tenciona trazer um sentimento de justiça ao mundo, mas expor sua injustiça.
Bom filme!
P. ;-)#7Prisioneiros #Netflix
#RodrigoSantoro #ChristianMalheiros
Rodrigo Santoro, Christian Malheiros
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